Colaborações Indústria Universidade: 7 Motivos!

Esta é a minha primeira postagem no blog e decidi fazer isso sobre um tópico muito relevante: colaboração indústria universidade. Mas por que você deveria considerar minha opinião? (se você já me conhece pode optar por pular diretamente para o Motivo 1)

Se você é da indústria, eu estive no seu papel por vários anos, fui proprietário de uma empresa de software (de 2004 a 2012). Assim, seu ponto de vista certamente é considerado ao longo do texto.

Se você é da universidade, atualmente sou professor no departamento de informática da PUC-Rio. De acordo com o ranking universitário da Times Higher Education 2017, a PUC-Rio é a líder em parcerias com a indústria na América Latina.

No que se refere a colaboração indústria universidade, o grupo de pesquisa que estou coordenando na PUC-Rio conduz pesquisas em estreita colaboração com a indústria e tem contratos ativos de colaboração. Em outras palavras, o modelo de colaboração descrito abaixo está sendo aplicado na prática. Muitas das minhas publicações dizem respeito a pesquisa aplicada. Este ano tive a honra de ser escolhido para co-presidir a trilha industrial de uma das principais conferências na minha área (International Symposium on Empirical Software Engineering and MeasurementESEM 2017). Recentemente, recebi a honra de servir ao corpo editorial do Journal of Systems and Software, um dos principais periódicos internacionais da minha área, que também valoriza fortemente contribuições de relevância prática para a indústria. …

A seguir listo sete motivos pelos quais a indústria deve colaborar com universidades.

Motivo 1: (Benefício para a Indústria) Pesquisa Desencadeia Inovação e Excelência Operacional

Inovações de produtos e/ou serviços não são mais uma opção nos negócios de hoje. Os dias em que as empresas podiam confiar em produtos, serviços e modelos de negócios tradicionais se foram. Como dito por Steve Jobs, “A inovação é o que distingue um líder de um seguidor”.

A inovação de processos (com gerenciamento de mudanças efetivo) é necessária para que empresas se mantenham competitivas na sociedade global e para que alcancem excelência operacional e maiores lucros.

Enquanto algumas empresas (por exemplo, Apple, Google, IBM, Microsoft, entre outras) têm grupos de pesquisa internos focados em inovação de produtos/serviços e processos, outras não têm o orçamento para estabelecer esses grupos. Além de exigir a contratação de pesquisadores altamente qualificados e treinados, estabelecer estes grupos envolve fornecer-lhes a infra-estrutura para pesquisa de ponta e também fundos para viajar pelo mundo para conferências de ponta, para permanecer na vanguarda do conhecimento em suas áreas de atuação.

Assim, o primeiro motivo é claro. A pesquisa promove inovação. A inovação, por sua vez, é necessária para o sucesso. No entanto, estabelecer um grupo de pesquisa interno é caro.

A boa notícia é que as empresas não precisam estabelecer um grupo de pesquisa interno e que mesmo as pequenas e médias empresas podem ter acesso aos benefícios de desencadear a inovação e o sucesso com base em pesquisa. A chave é a colaboração indústria-universidade. Isso nos leva ao segundo motivo …

Motivo 2: (Benefício para a Indústria) Investir em Pesquisa Aplicada Não Precisa ser Caro

A solução está em estabelecer parcerias com grupos de pesquisa de universidades. Basicamente, as universidades já têm pesquisadores altamente qualificados, incluindo professores com doutorado em sua área de especialização e pessoal altamente qualificado, incluindo bolsistas de pós-doutorado e estudantes de doutorado e mestrado (vale lembrar que, em universidades de ponta, apenas os melhores alunos de graduação tendem a ser aceitos nos cursos de mestrado e doutorado).

As pessoas nesses grupos de pesquisa já têm algum tipo de renda básica (em geral bolsas) para produzir resultados de pesquisa. Eles também têm a infra-estrutura necessária (laboratórios de pesquisa equipados, acesso a documentos de pesquisa e livros) e a responsabilidade de acompanhar o que está sendo discutido nas principais conferências e periódicos em suas áreas.

Este é o ponto em que o poder da sinergia entra e a discussão começa a se tornar particularmente interessante. As idéias dos empresários e os problemas das empresas podem se tornar terrenos férteis para pesquisas aplicadas. A missão de gerar conhecimento não precisa estar desacoplada da prática industrial (mais sobre este assunto na Razão 5). Essa sinergia é o que permite a pesquisa com investimentos menores (complementares).

Em vez de estabelecer e manter um grupo de pesquisa, tudo que a empresa tem a fazer é um investimento básico que permita ao coordenador do grupo de pesquisa complementar a renda dos envolvidos e ajudá-lo a manter seu laboratório de pesquisa. Enquanto houver interesse mútuo em investigar o tema, todos se beneficiarão. No caso particular da engenharia de software (minha área de pesquisa), qualquer combinação de contexto e processo de software pode fornecer uma situação de colaboração de benefício mútuo. Há sempre espaço para melhorias (adoção de tecnologias de ponta e inovadoras) e experimentação contínua, propiciando inovação de produto/serviço ou processo de um lado (indústria) e evolução do conhecimento científico e artigos do outro (universidade). Na última semana estabeleci mais uma dessas parcerias, que normalmente resultam em animação por parte de todos os envolvidos no início e, posteriormente, no estabelecimento de novas relações de confiança mútua.

Claro que empresas maiores sempre terão a opção de investir além desses limites, de acordo com suas necessidades e sua capacidade de investimento. Essas empresas podem, por exemplo, montar unidades de inovação de pesquisa completas dentro da universidade (temos algumas dessas no Departamento de Informática da PUC-Rio). Isso permite a elas manter proximidade com o ambiente das universidades, dos pesquisadores que tendem a ser referências em suas áreas, e de alunos que poderiam estar preparados para integrar suas equipes de pesquisa no futuro.

Motivo 3: (Benefício para a Indústria) Acesso a Conhecimento e Tecnologias Inovadoras

Na área da tecnologia, conferências científicas renomadas tendem a ter uma forte participação de empresas, interessadas principalmente em conhecimento e tecnologias inovadoras. Na International Conference on Software Engineering (ICSE) 2017, por exemplo, 52 dos 127 artigos aceitos nas trilhas de pesquisa e prática envolveram diretamente pesquisadores da indústria (fonte: blog do David Shepherd, co-chair da trilha prática do ICSE 2017). Empresas como ABB, Accenture, Blackberry, BMW, Cisco, Ericsson, Google, IBM, Microsoft, Samsung, Siemens e muitas outras participaram ativamente, tendo artigos científicos aceitos no evento. O International Symposium on Empirical Software Engineering and Measurement (ESEM) 2017 teve um aumento de 50% na quantidade de submissões para sua trilha industrial.

E as pequenas e médias empresas? Eles não deveriam ter acesso a esse conhecimento e às principais tecnologias de ponta também? Existem pessoas que participam dessas conferências todos os anos que estão bem informadas sobre o que está acontecendo em suas áreas. Sim, estou me referindo aos professores pesquisadores e aos membros de seus grupos de pesquisa. Assim, a menos que uma empresa acredite que as principais empresas de tecnologia estão fazendo isso errado, ela deveria se preocupar em estabelecer uma colaboração com uma universidade para ter acesso aos mais recentes conhecimentos e às tecnologias inovadoras em seu campo de interesse.

Motivo 4: (Benefício para a Indústria) Visibilidade

Imagine uma pequena ou média empresa reconhecida internacionalmente por investir em pesquisa para inovação e excelência operacional. Mais do que isso, tendo seu nome associado ao das melhores universidades e institutos de pesquisa, como TUM na Europa, MIT na América do Norte, PUC-Rio na América do Sul, Tokyo Tech na Ásia, … *

* A intenção aqui é apenas mencionar exemplos, é claro que existem muitas outras universidades e institutos de excelência nesses continentes.

Imagine essa empresa publicando artigos de pesquisa sobre tecnologia de ponta aplicada em seu contexto em eventos de renome internacional, compartilhando espaço com gigantes como Google, IBM e Microsoft.

Não há dúvida de que essas empresas serão reconhecidas como atores-chave pela indústria, universidades e estudantes, em particular das universidades em que decidiram realizar sua pesquisa aplicada.

Motivo 5: (Benefício para a Universidade) Pesquisa Aplicada Focada em Problemas Práticos e Relevantes

A sinergia entre ciência e prática é o que explica a extensão do benefício mútuo descrito por estes 7 motivos. Do meu ponto de vista, a missão de gerar conhecimento deve ser alinhada com as necessidades da indústria e o bem-estar da nossa sociedade. Assim, os grupos de pesquisa devem apoiar e alavancar a indústria em benefício da sociedade. Ao investigar idéias práticas inovadoras e soluções de problemas enfrentados em contextos industriais reais, os cientistas podem se concentrar na geração de conhecimento realmente necessário e relevante.

Como resultado, cientistas produzirão artigos de maior impacto para ambos, ciência e indústria/sociedade. Hoje em dia, pelo menos na minha área de atuação, muitos periódicos de alto fator de impacto valorizam pesquisa aplicada focada na resolução de problemas de relevância prática.

Motivo 6: (Benefício para a Universidade) Pesquisadores Motivados e Altamente Qualificados

Pesquisadores normalmente se sentem motivados com colaborações com a indústria para investigar problemas do mundo real, pois tendem a perceber mais facilmente o benefício de suas pesquisas para a indústria/sociedade.

A realização de pesquisas para resolver problemas do mundo real é desafiadora e exige um profundo conhecimento sobre métodos científicos. Pesquisadores terão a oportunidade de aplicar esses métodos na prática (por exemplo, pesquisa-ação, estudos de caso, experimentação contínua), desenvolvendo habilidades fortemente valorizadas por empresas e institutos de pesquisa.

Motivo 7: (Benefício para a Universidade) Autonomia Universitária e Pesquisadores Bem Remunerados

As colaborações indústria-universidade permitem ao coordenador do grupo de pesquisa complementar a renda dos pesquisadores envolvidos. Infelizmente, e contrastando sua experiência, esses pesquisadores geralmente não são bem pagos. Governos se baseia em sua vontade de buscar um título de mestrado ou doutorado para lhes pagar bolsas de pesquisa extremamente baixas (em alguns países vivem em condições quase miseráveis).

Atualmente o papel da ciência e os investimentos governamentais na ciência estão sendo muito questionados pela sociedade global. Cientistas precisam reagir e dar um passo na direção de se tornarem mais independentes do governo.

Como coordenador de um grupo de pesquisa, fico feliz sempre que tenho a oportunidade de complementar a renda dos meus alunos ao fazer parcerias com a indústria e alinhar suas pesquisas com necessidades concretas da indústria. Além disso, pagar bem permite selecionar pessoas altamente qualificadas para a equipe do grupo de pesquisa, o que, por sua vez, aumentará os resultados da pesquisa a longo prazo. No futuro, gostaria de ver cada vez mais estudantes de pós-graduação sendo bem pagos, realizando pesquisa aplicada em parceria com empresas para resolver problemas relevantes do mundo real, publicando artigos de alto impacto e de interesse direto para a sociedade.

Eu posso até realizar algum esforço para ajudar empresas na área de engenharia de software e para complementar a renda dos meus alunos, mas mudar o status quo de maneira mais ampla exige um esforço conjunto e coordenado. Compartilhar esta publicação para conscientizar pessoas é um passo nessa direção.

 

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Marcos Kalinowski
Professor (orientador de mestrado e doutorado) do quadro principal do Departamento de Informática da PUC-Rio, onde atua na área de Engenharia de Software e coordena grupos de pesquisa no Laboratório de Engenharia de Software (LES). Co-coordena a iniciativa ExACTa PUC-Rio de transformação digital. Tem a visão de estreitar os laços entre a academia (ciência) e empresas (indústria) que estão buscando inovação e excelência operacional.

Mais informações podem ser encontradas em sua página: http://www.inf.puc-rio.br/~kalinowski

Author: Marcos Kalinowski

Professor (orientador de mestrado e doutorado) do quadro principal do Departamento de Informática da PUC-Rio, onde atua na área de Engenharia de Software e coordena grupos de pesquisa no Laboratório de Engenharia de Software (LES). Co-coordena a iniciativa ExACTa PUC-Rio de transformação digital. Tem a visão de estreitar os laços entre a academia (ciência) e empresas (indústria) que estão buscando inovação e excelência operacional. Mais informações podem ser encontradas em sua página: http://www.inf.puc-rio.br/~kalinowski

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